quinta-feira, 12 de março de 2015

BASES PARA O ENSINO DA MÚSICA INFANTIL

As bases para o ensino de música
 A partir do levantamento sobre as práticas pedagógico-musicais , percebe-se que são várias as formas de realizar o ensino de música. Essas formas parecem ter relação com os diferentes contextos. A música no contexto da educação infantil adquiriu respaldo oficial quando foi incluída na proposta do RCNEI e em propostas estaduais e municipais. Isso parece demonstrar que o documento não atingiu aos seus propósitos, isto é, servir de referência para os professores que estão em sala de aula. Vários motivos podem estar envolvidos no desconhecimento dessa proposta. Dentre eles, a forma de divulgação do documento, a linguagem utilizada, a formação musical das professoras para entender a proposta de música e a estrutura do documento, a qual pode levar as professoras a pensar em um trabalho por disciplinas. Os argumentos utilizados pelas professoras para justificar a importância da música nesse nível de ensino são vários, com base nos quais elas atribuem à música diferentes funções. Esses argumentos foram analisados tomando-se como referência as categorias construídas por Souza et al. (2002), a dizer: música como terapia, música como auxiliar no desenvolvimento de outras disciplinas, música como mecanismo de controle, música como prazer, divertimento e lazer, música como meio de transmissão de valores estéticos, música como meio de trabalhar práticas sociais e valores e tradições culturais dos alunos e música como disciplina autônoma. Quando concebida como terapia, a música seria uma forma de tranquilizar as crianças e de “integrar os sentimentos dos alunos como parte do trabalho pedagógico, além de desenvolver aspectos expressivos e afetivos de suas vidas considerados negligenciados” (Souza, et al., 2002, p. 60). Para essa faixa etária a música acontece diariamente, é lúdico, tranquiliza, as crianças se expressam com naturalidade e envolvimento. Com música a vida fica bem melhor e o trabalho com música na educação infantil é rico e atinge todos os níveis e faixas etárias, desenvolve a expressão, a autoestima e o autoconhecimento. “Vida é música.” A música como auxiliar de outras disciplinas é a “tendência de usar a música como uma atividade que serve para ilustrar ou clarificar assuntos de outras disciplinas e atividades curriculares” (Souza et al., 2002, p. 61-62). Nessa perspectiva, ela poderá ser utilizada como auxiliar em outras áreas de conhecimento, assim como nas tarefas rotineiras da educação infantil.: A música faz parte da vida e do contexto da educação infantil e é aproveitada em todos os momentos da rotina, desenvolvendo as áreas do conhecimento. Por proporcionar prazer nas crianças e educador, a música é utilizada em todos os momentos da rotina diária, não só como meio de percepção musical, mas no desenvolvimento da linguagem, expressão e ritmo, entre outros. Beyer (2001, p. 46) salienta que, nesses casos, a música é considerada “importante coadjuvante”, sendo “utilizada para que [as crianças] aprendam os conteúdos propostos mais rapidamente”, o que, para a autora, não significa, necessariamente, educação musical. Algumas professoras também afirmaram que a música, na educação infantil, poderia ser utilizada para a formação de hábitos. Para Souza et al. (2002, p. 65), baseadas em Tourinho (1993b), a música, nesses casos, é “concebida como um meio de controlar comportamentos, porém de uma forma mais amena”. Compreendo que, através da música, conseguimos aprender, organizar, poder de integração e trabalho físico, pois realizamos movimentos ritmados. Beyer (2001) destaca que o uso da música como forma de organizar as crianças é comum nesse nível de ensino. Segundo Barbosa (2000, f. 158), “uma estratégia muito utilizada nas rotinas para fazer essas transições entre as atividades é a de utilizar as canções”. A autora destaca que, de acordo com a música que a professora começa a cantar, as crianças “sabem que é hora de interromper o que estão fazendo e mudar de atividade” (Barbosa, 2000, f. 158). Segundo ela, há um vasto repertório de canções que são ensinadas às crianças e que têm como finalidade marcar a transição entre as atividades. Ela destaca ainda que os tempos de transição são, normalmente, pouco pensados pelos educadores, embora contemplem uma questão importante que é o atribuir uma significação aos acontecimentos, isto é, retirar as atividades de um rol de ações fragmentadas para um contínuo. É preciso compreender como uma atividade articula-se com a outra, como uma atividade iniciada hoje pode ser complementada amanhã se for necessário mais tempo para a sua execução do que fora anteriormente planejado. Meu contexto de sala de aula aborda a música como um elemento gostoso, prazeroso que envolve e encanta, e baseia-se na minha história de vida que também é a minha história profissional. Acredito que a música tem que fazer parte do contexto diário ou, no mínimo, em aulas permanentes durante a semana; pois, além de proporcionar alegria às crianças, trabalha com outras questões como o ritmo, freio inibitório, tons de voz, linguagem. A música é muito importante em qualquer nível, na educação. Tudo que se deseja desenvolver: atenção; prazer; concentração; participação; memória, etc., é a música o elemento fundamental, é o convite .
A linguagem musical é uma forma de organizar os sons, estabelecendo relações e gerando significados. […] E é justamente a autoria o que me chama mais atenção na música, ou seja, a possibilidade do aluno criar e ser inventor de outros possíveis. Acredito, porém, que muitos professores não têm clareza de que a música trabalha a emoção, a percepção, a expressão e a criação poética, a partir da improvisação, interpretação, imitação e composição, onde o aluno passa por várias etapas de desenvolvimento nessa construção. Procuro garantir momentos prazerosos, divertidos na vivência e exploração das diferentes músicas, explorando aspectos relacionados à música, ampliando o repertório das crianças, a escuta/fazer musical (canto, apreciação, improvisação. Procuro trabalhar a música como mais uma das linguagens infantis e como uma forte possibilidade de integração e estreitamento de vínculos entre criança e professor e entre as próprias crianças. Considero a música uma forma de expressão da criança (e do adulto também). Utilizamos a música considerando-a como meio de expressão, linguagem, como meio para desenvolver autoestima, integração social e autoconhecimento através da produção e apreciação. Segundo Souza et al. (2002, p. 71), “buscar o desenvolvimento da capacidade musical dos alunos não exclui, necessariamente, tratar a música sob a perspectiva da inter/multi/transdisciplinaridade ou como meio de desenvolver outras capacidades”.

 Para Zabalza (1998, p. 52), embora o crescimento infantil seja um processo global e interligado, não se produz nem de maneira homogênea nem automática. Cada área de desenvolvimento exige intervenções que o reforcem e vão estabelecendo as bases para um progresso equilibrado do conjunto. [...] Sem dúvida, todas essas capacidades estão vinculadas (neurológica, intelectual, emocionalmente), mas pertencem a âmbitos diferentes e requerem, portanto, processos (atividades, materiais, orientações, etc.) bem diferenciados de ação didática. Isso, obviamente, não impede que diversas dessas atividades especializadas estejam reunidas em uma atividade mais global e integradora: em um jogo podemos incorporar atividades de diversos tipos: uma unidade didática ou um projeto reunirá muitas atividades diferenciadas, etc. Destaco a importância da música relacionando-a a argumentos que poderiam ser transversais às demais áreas do conhecimento, com as quais a música também poderia dialogar e ter uma visão global de diferentes aspectos a serem desenvolvidos na educação das crianças dessa faixa. Para construir conhecimento a criança precisa ser desafiada a buscar, a descobrir, a levantar hipóteses, a buscar soluções, a inventar outros possíveis. Para Bellochio (2000, f. 119-120), o professor unidocente precisa trabalhar na perspectiva [...] de organizar os conhecimentos, potencializar a educação escolar e ensinar a criança a pensar e tomar decisões, considerando os em tornos sociais dos locais de aprendizagem. Para tanto impõe-se a esse profissional a tarefa de ser um mediador ativo e conhecedor crítico dos percursos epistemológicos que orientam os aprendizados iniciais de seus alunos nos vários campos do conhecimento. Não significa pensá-lo como “um sujeito” isolado em seus processos de decisão profissional, que não problematiza as práticas educativas, tornando-se apenas cumpridor de carga horária e de currículos construídos por outros. Todavia, o conhecimento musical específico de alguns  professores parece não ser suficiente para que eles, na sua maioria, possam justificar a presença da música também com argumentos baseados em elementos específicos da música. Pois teremos todo o suporte nesse blog para que pais, alunos e professores que desejarem trabalhar com musica na educação infantil ou com adolescentes e adultos. 

A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 Nas últimas décadas, a educação infantil, isto é, a educação de crianças de 0 a 6 anos realizada em creches e pré-escolas, adquiriu uma nova ordem no âmbito das políticas e das teorias educacionais. Mudanças no mundo do trabalho, aliadas a pesquisas no campo da educação, tanto no panorama internacional quanto nacional, impulsionaram a criação de normas que assegurassem o direito das crianças pequenas à educação.
A Constituição Brasileira aprovada em 1988, no Art. 208, declara que
“o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade”
 (Brasil, 1988).
Além da Constituição, as crianças estão contempladas no Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 2001) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, na qual a educação infantil passa a ser a primeira etapa da educação básica. Consta ainda, no Art. 26, que o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos (Brasil, 1998a). O processo de implantação da LDBEN foi complementado com a publicação, pelo Ministério da Educação (MEC), do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), que tem por objetivo auxiliar o professor na
 “realização do seu trabalho educativo diário junto às crianças pequenas” (Brasil, 1998b, p. 5

A música, é definida como uma das linguagens a serem desenvolvidas, garantindo, assim, espaço à educação musical nesse nível de ensino. Várias críticas foram feitas ao RCNEI, dentre as quais destacamos aqui aquela que questiona se a proposta consegue atingir os professores, já que existe, entre eles, uma diversidade regional, cultural, socioeconômica. Além disso, as propostas de educação infantil, tanto nacional quanto estaduais e municipais, defendem a necessidade de um professor que pense na criança de uma forma integrada e que tenha domínio em diversas áreas do conhecimento, como sinaliza o RCNEI (Brasil, 1998b, p. 41). Nesse sentido, Kishimoto (2002, p. 109) questiona o espaço destinado ao ensino das artes nos cursos de formação de professores de educação infantil: [...] como justificar que, na maioria dos cursos de formação profissional, a arte está ausente ou fica restrita às artes visuais? Onde estão a música, a dança, o teatro, ou melhor, qual o espaço destinado às linguagens expressivas? Figueiredo (2001) aponta que, na região Sul, a formação musical do pedagogo é insuficiente ou inexistente. Essa formação insuficiente ocorre ao longo do ensino fundamental e médio, bem como nos cursos de pedagogia, a que os estudantes chegam, muitas vezes, sem ter tido um contato mais formal com a música. Esse fato, segundo o autor, pode ser visto nas práticas musicais dos pedagogos, causando insegurança para atuar no ensino de música para as crianças.

. Mudanças importantes aconteceram na legislação respaldando a educação infantil como primeira etapa da educação básica, buscando que o professor desse nível tenha a formação necessária e garantindo à música o seu espaço nos currículos escolares.